GM Rabbits,
Bem-vindos a primeira edição mensal! Diferente da edição semanal, essas edições são mais longas pois aprofundamos em um tópico. Então, pega um cafézinho e vem nessa com a gente.
Nessa edição vamos desmistificar o que é uma blockchain e quais são algumas de suas aplicações. Não vamos debruçar nos detalhes técnicos, mas sim compartilhar o por quê acreditamos no potencial disruptivo dessa tecnologia e como isso afeta a nossa sociedade. Vamos explicar os conceitos básicos e compartilhar links para aqueles que desejam aprofundar. Acreditem, o Rabbit Hole é infinito. Bora começar a escavação?
Muito se fala sobre Bitcoin, Ethereum e outros projetos. À medida que os preços disparam a atenção das pessoas se volta para esses ativos. Enquanto muitos enxergam como uma chance de ganhar dinheiro rapidamente, outros se apaixonam pelas possibilidades que as blockchains permitem e imaginam as aplicações a longo prazo. Essa newsletter é dedicada para esse segundo público.
A blockchain foi proposta pela primeira vez com o white paper do Bitcoin em 2008. Seu criador é conhecido pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto. Até hoje é um mistério quem de fato criou o Bitcoin, não sabemos se foi uma ou várias pessoas. O que sabemos é que essa foi uma importantíssima inovação porque pela primeira vez foi possível transferir bens digitais de forma descentralizada garantindo que fraude e gasto duplo (gastar a mesma moeda duas vezes) não iria ocorrer.
O primeiro passo da nossa escavação é entender alguns conceitos chave como blockchains, criptomoedas e descentralização.
O que é uma blockchain?
Gostamos dessa definição da Investopedia:
Uma blockchain é um banco de dados distribuído que é compartilhado entre uma rede de computadores. Como um banco de dados, uma blockchain armazena informações eletronicamente em formato digital. Blockchains são mais conhecidas por seu papel crucial em sistemas de criptomoedas, como Bitcoin, para manter um registro seguro e descentralizado de transações. A inovação com uma blockchain é que ela garante a fidelidade e segurança de um registro de dados e gera confiança sem a necessidade de um terceiro de confiança.
Uma diferença importante entre um banco de dados típico e uma blockchain é a maneira como os dados são estruturados. Uma blockchain coleta informações em grupos, conhecidos como "blocos" que contêm conjuntos de informações. Os blocos têm certas capacidades de armazenamento e, quando preenchidos, são fechados e vinculados ao bloco previamente preenchido, formando uma cadeia de dados conhecida como "blockchain". Todas as novas informações que seguem aquele bloco recém-adicionado são compiladas em um bloco recém-formado que também será adicionado à cadeia depois de preenchido.
Um banco de dados geralmente estrutura seus dados em tabelas, enquanto uma blockchain, como seu nome indica, estrutura seus dados em blocos (blocks) que são agrupados. Essa estrutura de dados inerentemente cria uma linha do tempo irreversível de dados quando implementada de forma descentralizada. Quando um bloco é preenchido, ele é “gravado em pedra” e se torna parte desta linha do tempo. Cada bloco na cadeia recebe um carimbo de data / hora exato quando é adicionado à cadeia.
Blockchains como a do Bitcoin e o Ethereum são mantidos por milhares de computadores que estão conectados à rede. Essas blockchains são auditáveis pois são completamente abertas, elas consistem em uma série de blocos individuais armazenados consecutivamente em um banco de dados público. Funciona como um sistema de contabilidade distribuído onde todas as transações ficam registradas. Blockchains permitem diversas aplicações, como criptomoedas que podem servir como recompensas para aqueles que executam o software em seus computadores físicos ou hardware especializado.
O que é uma criptomoeda?
O conceito de dinheiro digital pode parecer estranho no primeiro momento. Apesar de usarmos com frequência cartões de crédito, Pix e outros meios que transferem dinheiro virtual, ainda estamos habituados a associar dinheiro a coisas físicas e tangíveis como notas fiduciárias (Real, Dólar, Euro…), bens (imóveis, carros, etc) ou metais preciosos como o ouro. No entanto, na sua essência o dinheiro é apenas um meio de troca onde pessoas acreditam que aquilo tem valor. Se amanhã todos deixassem de acreditar que o ouro tem qualquer valor, o preço do metal se tornaria zero. No passado, já foram utilizados como dinheiro: Conchas, alimentos, pedras de calcário… Inclusive a palavra salário deriva do latim salarium, que significa “pagamento de sal”. O termo vem do antigo Império Romano, quando o sal era usado como dinheiro 🤯
É natural pensar que a evolução irá continuar e novas formas de dinheiro irão ganhar relevância. Criptomoedas são moedas digitais nas quais as transações são verificadas e os registros mantidos em uma blockchain por um sistema descentralizado utilizando criptografia, ao invés de uma autoridade centralizada. Uma forma de dinheiro nativo da internet. A criptomoeda mais famosa e com maior valor de mercado é o Bitcoin.
Descentralização é importante?
Primeiro vamos definir os conceitos:
Centralizado: Uma atividade ou organização controlada por uma única autoridade. Essa autoridade age como um ator confiável e independente. No caso do dinheiro essa autoridade garante que o dinheiro tem valor, que uma transação de fato ocorreu e mantém o banco de dados atualizado. Pense em bancos, governos e empresas privadas.
Descentralizado: O processo pelo qual as atividades de uma organização são distribuídas. No caso do dinheiro digital, diversos participantes da rede precisam concordar que uma transação de fato ocorreu e manter o banco de dados atualizado. Pense em blockchains como a do Bitcoin e o Ethereum.
Ao descentralizar uma atividade você garante que um único ou pequeno grupo de atores não consegue simplesmente implementar decisões que afetam a todos e mudar as regras. Existem diversos motivos de porque isso é importante, mas queremos focar em dois:
Dinheiro: Hoje temos diversos governos imprimindo valores monstruosos de dinheiro, o que tem como consequência um aumento na inflação e uma diminuição no valor unitário daquele dinheiro. O brasileiro está bem habituado com o conceito da inflação, alô gasolina a R$7/L e alimentos que ficam cada vez mais caros. No caso do Bitcoin nenhum ator central pode decidir “imprimir” mais Bitcoins. A forma que o Bitcoin foi programado garante que existirão somente 21 milhões de unidades.
Ecossistemas: Grandes plataformas de tecnologia como Google, Facebook e Twitter quando começaram suas atividades fizeram de tudo para recrutar usuários e parceiros. Para parceiros que constroem a sua empresa em cima de uma plataforma centralizada (como Zynga fez com o Facebook) você está considerando um certo sistemas de regras. Caso essas regras mudem, você pode ser muito prejudicado. À medida que as empresas de tecnologia crescem inevitavelmente a relação com seus usuários e parceiros muda de uma relação de cooperação para uma relação de extração de valor. Pense nos nossos dados que são usados para gerar valor apenas para a plataforma por troca de um serviço gratuito ou diversos casos onde parceiros saíram altamente prejudicados como Google vs Yelp, Facebook vs Zynga ou Twitter vs apps de terceiros. Uma blockchain como o Ethereum garante que as regras vão continuar as mesmas pois o software não pode ser alterado por um único ou pequeno grupo de atores, o que transforma a lógica do “Don’t be evil (não seja malvado)”, para “Can’t be evil (não é possível ser malvado)”.
O Chris Dixon, General partner da a16z, aprofunda esse tema nesse blog post: Why decentralization matters.
Beleza, entendi os conceitos. Agora porque tudo isso é disruptivo?
Existem centenas, se não milhares de blockchains. Cada blockchain pode ter centenas de aplicações com propósitos diferentes. Por exemplo, o Bitcoin é uma criptomoeda que serve o propósito de reserva de valor (ouro digital). Seus desenvolvedores tomaram algumas decisões que permitiram que a rede seja altamente descentralizada e segura, as custas de uma velocidade maior. O Ethereum é uma blockchain que também optou pelo caminho com muita descentralização e segurança, mas escolheu um propósito diferente: O Ethereum permite a criação de contratos inteligentes sofisticados. Contratos inteligentes são programas armazenados que são executados quando condições predeterminadas são atendidas. Eles normalmente são usados para automatizar a execução de um acordo, de modo que todos os participantes possam ter a certeza imediata do resultado, sem o envolvimento de qualquer intermediário. Isso possibilita que o Ethereum (ou outras blockchains) tenha aplicações como:
DeFi: Abreviação de "finanças descentralizadas" (Decentralized Finance). Movimento que se baseia na ideia de descentralização do sistema financeiro. Surge com a visão de desintermediar e possibilitar transações peer-to-peer, além de efetuar pagamentos, empréstimos e financiamentos, etc. Exemplo: https://uniswap.org
NFTs: Abreviação de “tokens não fungíveis” (non fungible tokens). São utilizados para representar uma propriedade (ownership) de itens digitais exclusivos. Alguns exemplos envolvem obras de arte, músicas, e itens colecionáveis. NFTs são publicados em uma blockchain e permitem usuários realizarem transações de compra e venda. Exemplo: https://www.larvalabs.com/cryptopunks
DAOs: Abreviação de "organização autônoma descentralizada" (decentralized autonomous organization). DAOs são basicamente cooperativas de trabalho. É um tipo de corporação descentralizada com todas as regras inscritas em contratos inteligentes, então todas as funções corporativas confidenciais acontecem de forma descentralizada e automática. Exemplo: https://www.fwb.help
Play to earn: Jogos que permitem que usuários coletem criptomoedas e NFTs que podem ser vendidos no mercado. Ao jogar o jogo regularmente, cada jogador pode ganhar mais itens ou tokens para vender e gerar uma renda. Exemplo: https://axieinfinity.com
Web 3.0: . Representa a próxima iteração ou fase da evolução da internet e pode ser tão disruptiva e representar uma mudança de paradigma tão grande quanto a Web 2.0. A Web 3.0 é construída sobre os principais conceitos de descentralização, abertura e maior utilidade para o usuário. Exemplo: https://royal.io
03 mitos e 01 verdade
Com frequência a narrativa propagada pela mídia tradicional é cheia de mitos e FUD (medo, incerteza e dúvida). As críticas mais comuns sobre as blockchains são:
Mitos
1: Criptomoedas são utilizadas principalmente por criminosos para executar atividades ilegais
2: Não tem nenhuma aplicabilidade
3: Blockchain é apenas criptomoedas
Verdade: Bitcoin consome bastante energia
Como explicamos ao longo dessa edição blockchains como a do Bitcoin e o Ethereum são abertas, transparentes e auditáveis. Portanto, se você quer permanecer anônimo e realizar atividades ilegais essa não parece ser uma boa opção.
Esse artigo da Forbes compartilha uma pesquisa que mostra que em 2020 apenas 0,34% das transações com criptomoedas foram utilizadas para executar atividades ilegais.
Quanto as aplicabilidades, compartilhamos diversas aplicações e explicamos que criptomoeda é apenas uma dessas possíveis aplicações.
É verdade que minerar Bitcoin consome bastante energia, mas como esse artigo da Harvard Business Review explica: “Muitas preocupações ambientais são exageradas ou baseadas em suposições errôneas ou mal-entendidas sobre como o Bitcoin funciona. Isso significa que, quando perguntamos: “O Bitcoin vale seu impacto ambiental?”, o impacto negativo real que estamos falando é provavelmente muito menos alarmante do que você possa imaginar.” Vamos explorar isso em mais detalhe em outra edição.
Conclusão
É impossível explicar cada aplicação que a blockchain permite de forma detalhada nessa edição introdutória. O que queremos compartilhar com vocês é que a blockchain permite diversas aplicações com potenciais de causar disrupção em diferentes setores da economia. Quando olhamos para as blockchains vemos que o potencial e a capacidade de disrupção lembra muito o início da internet. Também tivemos o Dot-com crash e os empreendedores daquela época eram tidos como excêntricos. No entanto, foram eles que possibilitaram a transformação digital que vivenciamos. Acreditamos que estamos presenciando a próxima disrupção. Só que dessa vez todos podem participar ao entrar em um grupo de Discord onde estão as comunidades, ser dono de parte da rede ao realizar mineiração (assunto para outra edição) ou comprar criptomoedas.
Se você terminou essa edição sentindo que é muita informação e assuntos para aprender, não se preocupe. Nós nos sentimos assim também. Esperamos que você tenha curtido essa edição e tenha ficado curioso/a para aprender mais sobre esse universo. Bem-vindo/a ao Rabbit Hole!
Até a próxima!
🕳️🐇
Excelente conteúdo! Parabéns
Pessoal, tivemos um erro com o botão do Twitter, para seguir lá essa é a conta: @TheRabbitHole_8